Entrevista: O objectivo é alargar operação internacional na Europa
As ameaças para o sector continuam a vir da desaceleração da economia e de quem pretende cercear a liberdade e o cenário de paz que há muito se vivia na Europa e noutras zonas do mundo.
Bruno Lemos, responsável pelo departamento de marketing da Alfaloc
Jornalista: Jacinto Silva Duro
Fotografia: Ricardo Graça
A história da Alfaloc está profundamente ligada à relação de proximidade com a indústria metalomecânica, principalmente devido ao fato de a empresa ter tido origem e estar sediada na Marinha Grande. Por conseguinte, esse setor desempenhou o papel de grande motor nos primeiros anos da empresa, e continua a ser o mais significativo, especialmente no que se refere à indústria dos moldes.
De acordo com Bruno Lemos, responsável pelo departamento de marketing deste grupo de empresas do setor dos transportes e logística, “o futuro é hoje. Está a acontecer. Basta olhar para os desafios da Inteligência Artificial”. Com essa visão, ele destaca, entre as iniciativas mais interessantes realizadas recentemente pela empresa, o projeto Let’s Find the Way.
Esse projeto, aliás, deu a oportunidade a quase duas dezenas de jovens de receberem formação específica neste setor e, além disso, serviu de porta de entrada para oito novos estagiários, numa parceria com o IEFP. A experiência, segundo Lemos, é para repetir, reafirmando o compromisso da empresa com o desenvolvimento de talentos.
Adicionalmente, Lemos sublinha que a Alfaloc está extremamente empenhada na missão, ainda que difícil, mas absolutamente necessária, de digitalizar os seus processos. Essa digitalização, por sua vez, está a ter um impacto significativo na forma como a empresa realiza os seus negócios atualmente. Além disso, ele ressalta que o objetivo principal é proporcionar maior autonomia aos clientes, adaptando-se assim às exigências do mercado moderno.
Do ponto de vista operacional, a aposta é no prolongamento do corredor logístico, em direcção ao centro da Europa.
“Queremos estar onde estão os clientes dos nossos clientes e, ao mesmo tempo, facilitar as transações de mercadorias entre os diferentes parceiros.”
Contudo, as ameaças para o setor continuam a surgir da desaceleração da economia e, igualmente, de quem pretende cercear a liberdade e o cenário de paz que há muito se vivia na Europa e noutras partes do mundo.
“Os diferentes conflitos armados e políticos geram imprevisibilidade. São, por conseguinte, péssimos para um ambiente que deveria potenciar o investimento e o consumo. A falta de confiança dos mercados é sentida em todos os setores.”
Além disso, as dinâmicas políticas são também um fator relevante.
As eleições nos EUA, por exemplo, são encaradas com algum cuidado, especialmente devido à possibilidade de que o seu resultado possa acarretar “previsíveis impactos muito significativos”.
Por outro lado, a adoção das regras ESG (Ambiente, Social e Governança) representa uma oportunidade para melhorar procedimentos e, consequentemente, o desempenho.
“Tornámo-nos, recentemente, membros do BCSD, uma associação extremamente relevante neste contexto. Adicionalmente, iniciámos há três anos um projeto de contabilização da pegada ambiental e distribuição de certificados aos nossos clientes, nos quais informamos sobre esses valores e oferecemos alternativas mais sustentáveis”, relata Bruno Lemos.
Também têm sido realizados “investimentos significativos” na eficiência energética e na renovação da frota de curto alcance.
“Do ponto de vista social, estamos a preparar uma adesão à norma 4590, que rege o sistema de gestão do bem-estar e felicidade organizacional. Também temos introduzido benefícios que procuram valorizar as nossas pessoas, como a oferta do dia de aniversário, o kit mamã ou papá, prémios de antiguidade, entre outros.”
Do ponto de vista da governança, o destaque vai todo para a estrutura societária da Alfaloc, que se constituiu como grupo económico, com a distribuição de participações societárias pelos colaboradores, na holding Corália SGPS.
A Alfaloc é certificada pela norma ISO 9001, desde 2008.
A empresa emprega, actualmente, 106 pessoas, e opera em vários ramos, no calçado, no têxtil, na logística-farma ou saúde.
“Na realidade, estamos presentes nos sectores do comércio internacional onde é relevante a urgência, a criticidade da carga e onde os protagonistas do sector exige personalização de serviços”, explica Bruno Lemos.
O portefólio de serviços é diversificado, criado a partir da necessidade de “construir soluções de transporte que ajudem verdadeiramente os clientes”.
“Transportamos para todo o mundo. Operamos em mais de 127 países, com pequenas encomendas, amostras, documentos, mas também cargas maiores, paletes até 1.200 quilos ou mesmo máquinas com 20 toneladas. Temos construído soluções de marca própria, inovadoras no mercado dos transportes, agrupando meios, optimizando rotas, valorizando valores de sustentabilidade e de partilha de recursos. Temos serviços como o Foguete, a Partilha, o Sonyc ou o Race”, adianta.
A empresa da Marinha Grande trabalha anualmente com cerca de um milhar de parceiros.
“A Alfaloc há muito que estruturou o seu modelo de negócio com base em partilha de recursos. Actuamos num sector onde a optimização de custos, a valorização de sinergias e a construção de partilhas são essenciais.”
A empresa recebe e expede a mercadoria para o cliente final, através das parcerias com várias empresas de transportes, com a particularidade de os serviços continuarem a ser da própria empresa da Marinha Grande, com características próprias.
Criada há 29 anos por João Pascoal, que teve uma ideia de negócio para colmatar uma lacuna do mercado, a empresa promove, desde então o apoio às empresas exportadoras portuguesas.
“Entre os nossos marcos históricos, até porque é a essência do nosso negócio, destaco a abertura de cada uma das nossas outras cinco unidades de negócio: Alfalisbon, em 2006, Alfario, em 2010, Alfaprata, em 2014, AlfaEuskadi, em 2017 e Alfagold, em 2021.”
“A Alfa Euskadi começou por uma questão operacional. Portugal é um país periférico e nós trabalhamos muito com operadores e carros dos países do Leste, que trazem mercadoria para cá, pois, somos, essencialmente, um país importador, mas depois não conseguem ter encomendas daqui suficientes para regressar. Isto faz com que não queira cá vir. Vão até França e Espanha e, depois, regressam.”
Isto representava, para a Alfaloc, um bloqueio ao crescimento.
“Além disso reparámos que mais de 80% dos nossos serviços passavam todos por Irún, pelo norte de Espanha. Bastaria ir um carro até lá e depois fazer o transbordo da mercadoria. Divide-se e baixa-se o preço de custo. Construímos aquilo a que chamamos um corredor, o FIDA. Sempre que é possível e não prejudica o tempo de trânsito, conseguimos juntar carga e levá-la até à fronteira de França e daí expedi-la”, explica o responsável pelo marketing.
Contamos já com mais de 3.500 clientes activos anualmente, a maioria são empresas portuguesas com forte apetência internacional, nas áreas da exportação e ou importação.”
“Em 2023, apresentámos um volume de negócio consolidado de 13 milhões de euros. Apesar de um primeiro trimestre em linha com o crescimento do ano anterior, no segundo trimestre deu-se uma travagem significativa na procura dos serviços internacionais de transporte expresso, resultando numa contracção de 2,8% no final do ano.”
A lacuna no mercado que resultou numa ideia de negócio
Há quase 30 anos, o fundador, João Pascoal, trabalhava na área da comunicação, tendo passado por vários órgãos de comunicação social.
Até que teve uma ideia de negócio que lhe pareceu que iria preencher um vazio onde ninguém estava a operar e que passava por esta constatação: as empresas da Marinha Grande necessitavam de um serviço de courrier simples.
“Algumas empresas de moldes tinham pessoas que não estavam a tempo inteiro e faziam recados. O João Pascoal contactou essas empresas e propôs passar a ser ele o ‘moço dos recados’”, conta Bruno Lemos.
As oportunidades sucederam-se e alguns desafios obrigaram a repensar o modelo, mas a estrutura cresceu, tornou-se independente e, rapidamente, foi necessário alargar o âmbito da actuação além-fronteiras.
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